[:o] "A Lógica é, na verdaDe, inabalável, mas ela não resiste a uma pessoa que quer viver" Kafka [;)]

domingo, 5 de abril de 2009

te ce ce dois (berlin san)

Não sei se já observastes isso em vós mesmos – como ente humano e não como um fragmento, num mundo fragmentado. Um ente humano (...) não tem nacionalidade (...) “participar” não significa simplesmente estender a mão para receber alguma coisa. Significa que deveis compartilhar (...) se ganhais uma belíssima jóia e não sabeis quanto ela é preciosa, podeis jogá-la fora; sois incapaz de apreciá-la em companhia de outros.
Krishnamurti.

As (in)definições de conceitos relativos ao tema identidade estão relacionadas às teorias do campo dos Estudos Culturais onde é concebida “a cultura como espaço privilegiado de transformação do ser social” (Williams, citado por Escosteguy, 2003, p.57).
Esta pesquisa tem a orientação construcionista, bibliográfica, é exploratória, explicativa, qualitativa e refere que o objeto das Ciências Sociais é histórico. Onde, aceitando os critérios da historicidade, aproximado e construído, o pesquisador – cavador de respostas – na busca do progresso desta precisa estar associado muito mais às violações do que à obediência (Feyerabend citado por Minayo, 2004, p.16; Santos, 2002).
As propostas dos Estudos Culturais serão relacionadas com as idéias de autores como Hall (2001) e Bauman (2005) que situam o tema na pós-modernidade e no pós-estruturalismo, utilizando, respectivamente, os termos “modernidade tardia” e “modernidade líquida”. Estes e alguns outros autores dos Estudos Culturais fazem levantamentos que constituem a difícil definição da identidade brasileira ou de uma formação dela, coadunando urgentes necessidades de novos paradigmas para tal referencial que requerem análises complexas, de cunho emancipatório e urgentes, onde é necessária a revisão frente às crises dos paradigmas conceituais do conhecimento.
A construção de uma identidade – nacional – não se constitui em um processo simples porque é difícil conceituar termo tão ambíguo, ou até mesmo poético, romântico. Hall irá tratá-lo como “(. . .) demasiadamente complexo, muito pouco desenvolvido e muito pouco compreendido” no conhecimento social contemporâneo “para ser definitivamente posto à prova” (2001, p.8).
Os sujeitos assumem diferentes e conflitantes identidades, o que só torna o processo como algo diferente de inato e existente na consciência desde o momento do nascimento até a hora da morte. A identidade não se desenvolve naturalmente sendo formada em relação aos outros, ao longo do tempo, através de processos inconscientes. Gritando que existe “algo 'imaginário' ou fantasiado sobre sua unidade” (Hall, 2001, p. 37-38), fazendo com que ela permaneça incompleta, um processo que está sempre sendo formado e reformulado.
No que se refere a um país continental, composto de muitos diferentes sujeitos e demasiadas desigualdades sociais, econômicas e culturais, a pretensa definição de identidade nacional e a análise de sua formação requerem muito mais a possibilidade de alguma licença poética aliada ao rigor na complexidade de tal análise, do que o rigor científico em “recapturar esse prazer fantasiado da plenitude” (Hall, 2001, p.39).
O problema que norteia este artigo é se pode se falar de uma identidade nacional brasileira. A questão fundamental que direciona este estudo vincula-se ao referencial de identidade que utilizado numa ampliação e não num fechamento. A isto segue a pergunta: qual o referencial de identidade utilizado?
No livro “Identidade”, o entrevistador Vecchi diz que em sua impressão ao dialogar com Bauman, foi ficando consciente de ter adentrado um continente muito mais amplo que aquilo por ele esperado: o vasto território real incabível nos mapas. “Continente cujos mapas eram quase inúteis em se tratando de encontrar direções” (2005, p.7). Igualmente, nós nos deparamos com a impossibilidade de um fechamento tranqüilo ou meramente tranqüilizador pela imprecisão e pela própria complexidade a que a temática nos submete. Eles, entrevistador e entrevistado, falam do lugar de impossível definição de identidade no mundo de rupturas pós-moderno e líquido, cuja tarefa torna-se impraticável/impossível pelas suas infinitas saídas.
Durante o transcorrer do processo de pesquisa bibliográfica foi necessário aceitar que às referências circunscritas, articulavam-se paradoxos ao pensamento lógico formal em suas características determinantes e restritivas que não poderiam dar conta de tal complexidade.
O referencial de identidade parte do esfacelamento do próprio referencial – via alternativa – que abre maiores possibilidades de diálogo dentro do tema. O convite de Bauman (2005, p.12) é o de nos exercitarmos com um pouco de sabedoria nos preparando para que este exercício seja, inevitavelmente, rompido por convidados “inesperados” que ele chama de “estratégias de adaptação à modernidade líquida” e que tem ações nas sociedades capitalistas tardias. Somos lançados, sem poder descansar, ao infinito e às profundidades desta questão social, atual e crucial. O autor vai referir que “a identidade é uma convenção socialmente necessária” e que muitas vezes vem sendo usada “com extremo desinteresse no intuito de moldar e dar substância a biografias pouco originais”.
Submetendo, sob o pretexto de entreter, homens e mulheres hipermodernos à alienação, remetendo-nos a pensamentos reducionistas, cientificamente atomizado-nos em seres (uni nucleados) individualizados (indivisíveis). Inserindo distancia aos sujeitos naquilo que poderia começar a responder à problemática, subjetiva e filosófica pergunta: quem sou eu?
Tradição na Globalização: o Esfacelamento das Fronteiras

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