[:o] "A Lógica é, na verdaDe, inabalável, mas ela não resiste a uma pessoa que quer viver" Kafka [;)]

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Notas sobre o Amar

“...Sigo às vezes em mim... essas coisas deliciosas e absurdas que eu não posso poder ver, porque são ilógicas à vista - pontes sem princípio nem fim, paisagem invertida - o absurdo, o ilógico, o contraditório, tudo quanto nos desliga e afasta do real e do seu séquito... O absurdo salva de chegar... aquele estado de alma que começa por se sentir a doce fúria de sonhar. E eu chego a ter não sei que misterioso modo de visionar esses absurdos... vejo essas coisas inconcebíveis à visão.”

O LIVRO do Desassossego, p.345, Fernando Pessoa.


                Num filme, o personagem médico legista descrevia óbitos dentro de sua mente. Ele só podia se relacionar com os corpos, e O CORPO, era um corpo morto. Fixado na sua profissão e no seu modo de operá-la, descrevia o estado dos corpos dentro do padrão do seu registro de óbito: “... alto teor de amargura em sua bílis... a rigidez de sua arcada dentária não deixava escapar nenhuma evidência de sorriso sincero... a causa morte é clara: FALTA DE AMOR... Todos querem escapar à morte sem este fim...”.
Peguei-me pensando no modo de operação do personagem como o de alguém que sofre de FALTA DE AMOR descrevendo o modo operante de sociedade. Só podemos descrever um modo de ver onde FALTA AMOR a todos os que nos envolvemos ou em qualquer possível relação. Corpos que irão um dia encontrar a morte, sem evidenciarem o AMOR, a VIDA, etc. Aparentemente vivos, mas sem possibilidades de viver, muito menos amar.
Formas de viver que descrevem nosso modo de vida atual: não planeja nem compartilha existência de viver e amar.
O amor como exercício, uma possibilidade. Que diferente da morte pode acontecer ou não, se houver vida, amor e compartilhamento. Um processo que arrisca encontrar os outros em estado de amor e a experiência da aventura deste encontro até outros encontros, ou desencontros. Além de conseguirmos perceber mais que apenas corpos, podemos permitir encontrarmos alguém que se sinta mais que corpo? Do modo como o ditado Balzaquiano: “Sempre chega uma idade em que a vida não passa de um costume exercido em um meio preferido”? (A Comédia Humana, Gobseck).
Este “meio” refere-se a um único modo de vida: o “costume exercido” de forma defensiva, durante anos e tornado modo de VIDA; Um único modo que nos defende de nós mesmos, da vida e dos possíveis AMORES. Um modelo que cultiva morte. Este modo deixa de fora AMOR, VIDA e nós mesmos.
Abrem-se campos de conflitos e modos de sofrer social, criando espaços vazios preenchidos pelas mais variadas drogas, anestésicos para o sofrimento: lícitas, ilícitas, doentias e até as mais saudáveis. Nos suicídios, em alguns casos mais graves de depressão, a morte passa a ser um modo de operar e dialogar com a vida...
Se a morte tornar-se a única forma de diálogo com a vida, os amores logo passarão a ser um modo de operar o equívoco de falsos amores destinados ao fracasso. Quando permitimos algum modo de desassossego nos nossos planos de vida podem começar a surgir outras formas de existir que não se console somente com o costumeiro, nos desafiando viver e AMAR com menos anestésicos e A+morte+cedores e menos drogas de amortecimento para a vida, para os amores, suas dores e os risco de suas possibilidades.

publicado em junho de 2013
Jornal Litoral Norte
Ângela Barcelos da Silva
CRP 07/17787 

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